Pular para o conteúdo principal

Ode à Maria Emília, Antonio Francisco Filho

Dizem que sogra não presta!
Que são o diabo em figura de gente!
A que eu tive não era como estas
era sim, de outra vertente,
Uma figura incomum, gente bem diferente.

Era sensível e inteligente,
E tinha uma calma que apressava a gente.
Parecia ter ciência de tudo
Estava além do comum desse mundo
Era um rio profundo e perene.

Quando a conheci, o seu cabelo já estava
prateado,
Mas ainda estava forte e segura,
E embora branda, resoluta,
Para as tormentas dessa vida parecia
impermeável!

Era Maria, como muitas,
Vinha de uma terra seca que no verão esturricava
Mas a secura daquela terra
Pelo seu coração na passava
Era um poço de imensa ternura, que a todos,
Acudia e ajudava.

Não nego! Tive muita sorte!
Pois a Emília que virou minha sogra
Era mais que uma mulher de verdade
Era um anjo ativo sem qualquer vaidade
Um ser que espalhava ternura e felicidade
E quando partiu
Deixou um olor de muita saudade.
Parece até que virou uma estrela,
De raro esplendor e terna beleza,
E como na vida,
Reluziu com doçura e tenacidade,
Hoje brilha intensamente
Pelos eflúvios da eternidade! 

Na imagem, o autor: prof.Antonio Francisco S. Filho e sua sogra: Maria Emília. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di...

Vamos pensar? (18)

Será que às vezes o melhor não é se deixar molhar?  

O Mendigo do Viaduto do Chá, Regina Ruth Rincon Caires

     A moeda corrente era o cruzeiro. A passagem de ônibus custava sessenta centavos. O ano era 1974.       Eu trabalhava no centro da cidade, em um banco que ficava na Rua Boa Vista. Morava longe, quase ao final da Avenida Interlagos, e usava diariamente o transporte coletivo. Meu trabalho, no departamento de estatística, resumia-se a somar os números datilografados em planilhas e mais planilhas fornecidas pelas agências do banco. Somas que deveriam ser checadas, e que eram efetuadas nas antigas calculadoras elétricas com suas infernais bobinas, conferidas e grampeadas nas respectivas planilhas. Não fosse o café para espantar o sono durante as diárias e rotineiras oito horas de trabalho, nenhuma soma teria sido confirmada.