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A Mulher Que Matou os Peixes

"Essa mulher que matou os  peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! que não tenho coragem de matar uma coisa viva! até deixo de matar uma barata ou outra."

Clarice Lispector assim começa o livro. Na maior franqueza diz que é ela mesma a mulher que matou os peixes, acrescenta que foi sem querer e mostra-se espantada com o que fez por ser uma pessoa sem coragem para tal maldade.  Li esse livro e achei formidável, porque a autora  escreveu como quem conversa francamente. De início já sabemos que foi sem querer, que acredita que as crianças leitoras vão entendê-la e informa que só vai contar como matou os dois peixinhos vermelhos no final do livro. Pondo-se no lugar do leitor responde que vai deixar para o fim porque precisa falar de outros bichos que teve em casa. Fala de uma gata que teve uma grande ninhada, e de como adoeçeu quando os filhote foram dados; diz  que barata é um bicho natural, porque está na casa sem ser convidada, fala que rato também é mas que não tem na sua casa porque todas as mães têm medo de rato. Prossegue falando de uma dedetização,  entra com uma lagartixa,mosquito. Todos, bichos naturais.  Em seguida vem os bichos convidados: dois coelhos, dois patos, pinto,Dilermando um cachorro comprado na Itália, que dava trabalho para tomar banho, depois o cachorro chamado Jack.  Acrescenta um fato inusitado: a visita de um macaco à sua casa quando morava nos USA ...  Clarice discorre esses fatos cotidianos e verdadeiros de sua infancia e fase adulta de uma maneira simples e divertida e o leitor só se dá conta dos peixinhos mortos, quando realmente no final do livro ela explica como matou.  Agrada crianças e adultos.  Grande Clarice Lispector!!

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