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O Que Estou Lendo? Rosa Montero

      Um livro sobre o luto e suas consequências, que navega com maestria entre a ficção e a memória.      Quando Rosa Montero leu o impressionante diário (incluído como apêndice neste livro) que Marie Curie escreveu após a morte de seu  marido, ela sentiu que a história dessa mulher fascinante guardava uma triste sintonia com a sua própria: Pablo Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, morrera havia pouco depois de enfrentar um câncer.      As consequências dessa perda geraram este livro vertiginoso e tocante a respeito da morte, mas sobretudo dos laços que nos unem ao extremo da vida ( Amazon). A Arte de Fingir Dor Como não tive filhos, a coisa mais importante que me aconteceu na vida foram os meus mortos, e com isso me refiro à morte dos meus entes queridos. Talvez você ache isso lúgubre, mórbido. Eu não vejo assim. Muito pelo contrário: para mim é uma coisa tão lógica, tão natural, tão certa. Apenas em nascimentos e mortes é que saímos do tempo. A terra detém sua rotação e as tri
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Os amigos, Camilo Castelo Branco

Amigos cento e dez, e talvez mais, Eu já contei. Vaidades que eu sentia! Supus que sobre a terra não havia Mais ditoso mortal entre os mortais. Amigos cento e dez, tão serviçais, Tão zelosos das leis da cortesia, Que eu, já farto de os ver, me escapulia Às suas curvaturas vertebrais. Um dia adoeci profundamente. Ceguei. Dos cento e dez houve um somente Que não desfez os laços quase rotos. – Que vamos nós (diziam) lá fazer? Se ele está cego, não nos pode ver… Que cento e nove impávidos marotos!

O Veredicto, Anna Akhmátova

E a pétrea palavra caiu sobre o meu peito ainda vivo. Pouco importa: estava pronta. Dou um jeito de aguentar. Hoje, tenho muito o que fazer: devo matar a memória até o fim. Minha alma vai ter de virar pedra. Terei de reaprender a viver. Senão… o ardente ruído do verão é como uma festa debaixo da janela. Há muito tempo eu esperava por este dia brilhante, esta casa vazia/ Imagem: retrato de Anna Akhmátova feito por: Nathan Altman em 1941

Há Um Cansaço da Inteligência Abstrata, Bernardo Soares

     Há um cansaço da inteligência abstracta e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo nem inquieta como o cansaço pela emoção. É um peso da consciência o mundo, um não poder respirar com a alma..      Então, como se o vento nelas desse, e fossem nuvens, todas as ideias em que temos sentido a vida, todas as ambições e desígnios em que temos fundado a esperança na continuação dela, se rasgam, se abrem, se afastam tornadas cinzas de nevoeiros, farrapos do que não foi nem poderia ser. E por detrás da derrota surge pura a solidão negra e implacável do céu deserto e estrelado.      O mistério da vida dói-nos e apavora-nos de muitos modos. Umas vezes vem sobre nós como um fantasma sem forma, e a alma treme com o pior dos medos — a da incarnação disforme do Não-ser. Outras vezes está atrás de nós, visível só quando nos não voltamos para ver, e é a verdade toda no seu horror profundíssimo de a desconhecermos.      Mas este horror que hoje me anula é menos nobre e mais

Mais Mulheres Na A.B.L ( veja quais foram e são as mulheres da ABL)

       A antropóloga e  historiadora Lilia Moritz Schwarcz foi eleita , nesta quinta-feira (7), para a cadeira 9 da Academia Brasileira de Letras. Ela sucede o diplomata, poeta e historiador Alberto da Costa e Silva, falecido em novembro do ano passado. A Professora sênior do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e atualmente Visiting Professor em Princeton ( O Globo). Lilian Schwarcz é a autora de As Barbas do Imperador Pedro II, um monarca nos trópicos e Lima Barreto - Triste Visionário. ( O Globo) A  Academia Brasileira de Letras, tem somente 5 mulheres. São elas: Cadeira 1 - Ana Maria Machado  O patrono da cadeira é Adelino Fontoura, quem antecedeu a escritora Ana Maria Machado foi Evandro Lins e Silva. A cadeira número 1 da ABL teve 5 ocupantes, antes  de Ana Maria. Só homens até 2003.   Sugiro: Um Gato no Telhado Menina Bonita de Laço de Fita Quem Sou Eu Cadeira 9 - Lilian Schwarcz (2024)  O patrono da cadeira é Gonçalves de Magalhães, quem antecedeu a escrit

Metonímia, Ou A Vingança do Enganado, Rachel de Queiroz ( Março: mês da mulheres)

 (Drama em três quadros)  Quadro I      Metonímia - a palavra me ficou na memória desde o ano de 1930, quando publiquei o meu livro de estréia, aquele romance chamado O Quinze. Um crítico, examinando a obrinha, censurava-me porque, em certo trecho da história, eu falava que o galã saíra a andar "com o peito entreaberto na blusa". "Que disparate é esse?", indagava o sensato homem. "Deve-se dizer é: blusa entreaberta no peito". Aceitei a correção com humildade e acanhamento, mas aí o meu ilustre professor de latim, Dr. Matos Peixoto, acudiu em meu consolo. Que estava direito como eu escrevera;que na minha frase eu utilizara uma figura retórica, a chamada metonímia - tropo que consiste em trasladar-se a palavra do seu sentido natural da causa pelo efeito, ou do continente para o conteúdo. E citava o exemplo clássico: "taça espumante" continente pelo conteúdo, pois não é a taça que espuma e sim o vinho. Assim sendo, "peito entreaberto"estav

Noites Amadas, Auta de Souza ( março:mês das mulheres)

Ó noites claras de lua cheia! Em vosso seio, noites chorosas, Minh’alma canta como a sereia, Vive cantando n’um mar de rosas; Noites queridas que Deus prateia Com a luz dos sonhos das nebulosas, Ó noites claras de lua cheia, Como eu vos amo, noites formosas! Vós sois um rio de luz sagrada Onde, sonhando, passa embalada Minha Esperança de mágoas nua… Ó noites claras de lua plena Que encheis a terra de paz serena, Como eu vos amo, noites de lua! Agosto de 1898, Macaíba- RN