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Mostrando postagens de agosto, 2020

A Noite, Guy de Maupassant

Amo a noite apaixonadamente. Amo-a como quem ama seu país ou sua amante, com um amor instintivo, profundo, invencível. Amo-a com todos os meus sentidos, com meus olhos que a veem, com meu olfato que a respira, meus ouvidos que escutam seu silêncio, com toda a minha carne que as trevas acariciam. As cotovias cantam ao sol, no ar azul, no ar quente, no ar leve das manhãs claras. O mocho voa à noite, mancha negra que passa pelo espaço negro, e, radiante, inebriado pela negra imensidão, solta seu grito vibrante e sinistro. ⠀⠀⠀⠀⠀ O dia me cansa e me aborrece. É brutal e barulhento. Levanto-me com dificuldade, e visto-me com lassidão, saio a contragosto, e cada passo, cada movimento, cada gesto, cada palavra, cada pensamento me cansa como se eu levantasse um fardo que me esmagasse. ⠀⠀⠀⠀⠀ Mas, quando o sol se põe, invade-me uma alegria confusa, uma alegria de todo o meu corpo. Desperto, me animo. À medida que cre

A Morte Na Sala de Aula, Walt Whitman

Tlim‑tlim‑tlim! O pequeno sino tocou sobre a mesa do professor numa escola de vilarejo; era de manhã, e as tarefas da primeira parte do dia estavam quase cumpridas. Todos sabiam muito bem que aquilo era uma ordem de silêncio e atenção; quando a ordem foi atendida, o professor começou a falar. Era um homenzinho atarracado, e se chamava Lugare. ⠀⠀⠀⠀⠀“Rapazes”, falou, “chegou uma reclamação de que ontem à noite um de vocês roubou frutas do quintal do sr. Nichols. Acho que até sei quem é o ladrão.  Seu  Tim Barker, venha cá.” ⠀⠀⠀⠀⠀O menino aproximou‑se. Era um garoto de boa aparência e franzino, dos seus treze anos; o rosto tinha uma expressão sorridente e bem‑humorada, que nem mesmo a acusação que lhe faziam nem o tom duro e o olhar ameaçador do mestre conseguiram dissipar por completo. A fisionomia do garoto, no entanto, era de uma brancura fantasmagórica demais para ser saudável; apesar da aparência carnuda e satisfeita, tinha uma expressão singular, como se alguma doença profunda, daqu

Nascida em 25 de agosto: Fernanda Takai

O Cabelo da Menina  Um dia, ela acordou com a cabeleira malucona. Iria para a escola mesmo assim? Sim, ela iria para a escola principalmente assim. Por que não? Na escola, a atitude da menina causou grande repercussão e o resultado foi inusitado. Acompanhando com leveza esse dia nada normal da menina e de seu cabelo, O cabelo da menina destaca a importância da autoestima e de reconhecer o que há de belo em cada pessoa.   A Gueixa e o Panda Vermelho     A  gueixa e o panda-vermelho conta a bela história de uma amizade improvável e mágica entre uma jovem japonesa e o raro panda-vermelho. Esse é primeiro livro infantil escrito pela cantora e compositora Fernanda Takai e ilustrado por Thereza Rowe. Nunca Subestime Uma Mulherzinha    Reunião de contos e crônicas pubicadas pela autora nos jornais Correio Braziliensa e O Estado de Minas com prefácio de Zélia Duncan. Nesta publicação o leitor poderá comprovar o talento literário e a irreverência de Fernanda Takai, uma mulherzinha com pouco mai

Carnaval Em Curitiba, Cristóvão Tezza (Nascido em 21 de Agosto)

        Carnaval Em Cruritiba        Lembro Jamil Snege, atrás da mesa, cigarro entre os dedos: "Carnaval em Curitiba? Não dá. O sujeito pula na rua, alegrinho, vem o guarda e prende!" Vendo de um certo jeito, é uma espécie de maldição esse carnaval — ou não-carnaval — na cidade. Temos até de nos explicar por escrito, como agora. Parece que carregamos a culpa pela falta de espírito carnavalesco, a vergonha do falso rebolado, essa triste ausência de brasilidade, quem sabe até falta de patriotismo! Quando o Brasil inteiro dança, nós aqui, naquele silêncio de missa, andando pelas ruas vazias, metendo o olho crítico no primeiro engraçadinho que sai por aí fazendo escândalo. Coisa de bêbados! Nem as crianças se entusiasmam: uma terça-feira gorda no Parque Barigüi, que descanso! Parece que estamos passeando em Genebra num começo de primavera! Nenhuma máscara de pirata ou palhaço, nada de serpentina, nem um único confete no chão, naquelas trilhas onde o pessoal sério faz a firme cor

Nascida em 20 de agosto: Cora Coralina

O Poema Mulher da Vida, mostra que quem é maduro acolhe e irmana-se, não julga nem condena sem autoridade para isto.  Cora Coralina poeticamente abraça a outra mulher. E só, porque não precisa mais que isso. 

Nascido em 17 de agosto: Emicida.

A Ordem Natural das Coisas A merendeira desce, o ônibus sai Dona Maria já se foi, só depois é que o sol nasce De madruga que as aranha desce no breu E amantes ofegantes vão pro mundo de Morfeu E o sol só vem depois O sol só vem depois É o astro rei, okay, mas vem depois O sol só vem depois Anunciado no latir dos cães, no cantar dos galos Na calma das mães, que quer o rebento cem por cento E diz "leva o documento, Sam" Na São Paulo das manhã que tem lá seus Vietnã Na vela que o vento apaga, afaga quando passa A brasa dorme fria e só quem dança é a fumaça Orvalho é o pranto dessa planta no sereno A lua já 'tá no Japão, como esse mundo é pequeno Farelos de um sonho bobinho que a luz contorna Dar um tapa no quartinho, esse ano sai a reforma O som das criança indo pra escola convence O … Decidi conhecer melhor o rapper Emicida, que eu acho simpático e interessante quando vejo conversando com Fabio Porchat ou algum outro lugar.  Recentemente, vi que sugestão de  6 livros  que 

O Testamento, Marcílio França Castro

           Como a visita era urgente, nem completei o horário de almoço. Antes das duas já estava na porta do edifício do Sr. Oto, um prédio antigo de vinte e poucos andares no começo da rua Tupis. O tabelião havia me dito com todas as letras que estávamos prestando um favor, que eu não devia me preocupar com o protocolo. “Esqueça as testemunhas, Walter, as formalidades. Apenas anote o que ele mandar, e não pergunte nada.”  ⠀⠀⠀⠀⠀  Subi o velho elevador de portas de madeira e grades de aço pensando na minha vida de escriturário. Em mais de vinte anos anotando e dando fé, não me lembrava de nenhum acontecimento significativo, nenhuma surpresa ou desastre, nenhum episódio que pudesse dividir a minha existência em um antes e um depois, como ocorria com todas aquelas pessoas que transformavam a compra de uma casa ou o reconhecimento de um filho em um fato memorável – que a mim cabia (em nome do tabelião) ape