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Mostrando postagens de março, 2016

Amplexo, Marcelo Alencar

Mãe, me dá um amplexo A pergunta pega Cinira desprevenida. Antes que possa retrucar, ela nota o dicionário na  mão do filho, que completa o pedido:  - E um ósculo também. Ainda surpresa, a mulher procura no livro a definição das duas estranhas palavras. E encontra. Mateus quer apenas um abraço e um beijo.  Conversa vai, conversa vem, Cinira finalmente se dá conta de que o garoto, recém-apresentado às classes gramaticais nas aulas de Português, brinca com os sinônimos. "O que vai ser de mim quando esse tiquinho de gente cismar com parônimos, homônimos, heterônimos e pseudônimos?", pensa ela, misturando as estações. "Valha-me, Santo Antônimo!" E emenda:  - Pára com essa bobagem, menino!  - Ah, mãe, o que é que tem? Você nunca chamou cachorro de cão? E casa de residência? E carro de automóvel?  - É verdade, mas...  Mas a verdade é que Cinira não tem uma boa resposta.  - E meu nome é Mateus - continua o rapaz. -

Gato, J.R.R Tolkien - Tradução de Jorge Pontual

Gatão, gordão, no chão imagem do Google ronrona e sonha com ratinho gordinho sonho risonho, ora lá fora outrora, ele andou veloz, feroz atroz bufou, lutou fera, pantera era no oriente viveu, correu, mordeu com dente em gente. O leão grandão durão, garra na marra presa , tesa, acesa a garra rasca e a pantera a espera bem de pé, com gula, ulula e pula pega o filé no véu do breu da selva são como a onça, altiva e livre e o gato é manso, mas o gatão, gordão de estimação, não esquece não. O jornalista Jorge P ontual costumava traduzir e ler Hobbit para seu filho quando criança. Gato , está n ' O Senhor dos A néis e faz parte de  As Aventuras de Tom Bombadi, foi escrito por Sam Gamgee personagem amigo de Frodo.

Visitando a estante de casa...

Comecei ontem a revisitar minha estante. Não que eu tenha parado de ler, mas é que indo procurar um trecho de livro pedido por meu sobrinho,  achei interessante, olhar mais detalhadamente o que temos lá. Autografado? C om dedicatória? Exemplar muito antigo? Recém adquirido? Veio de sebo?  Estante relativamente organizada foi fácil de encontrar:   Romance d'A Pedra do Reino, Ariano Suassuna.   Nele está o folheto (XXX) pedido por meu sobrinho: A Filosofia do Penetral.  É o exemplar mais antigo da prateleira . Tem 44 anos e foi comprado em Brasília. Tem prefácio de  Raquel de Queiroz e as ilustrações devem ser do próprio Ariano, porque ele também desenhava e não há indicação de um autor para elas. Encontrei nele, também, um poema que Ariano dedicou a seu pai, João Suassuna.  Ainda na estante e mais adiante , na let ra B tem o livro: Vincent!!   A história de Van Gogh escrita pela quadrinhista holandesa Barbara Stok.  Esse livr

Nostalgia Em Vez de Greia, José Teles

           No primeiro ano do ginasial havia um garoto rico na minha turma. Rico pros padrões de então, em que a classe média possuía geladeira e TV. Telefone e carro eram coisa pra classe média alta. A família desse meu amigo possuía uma grande concessionária de automóveis. Era, pois, milionária. Eu e Thomas, o menino rico,nos tornamos muito amigos pela paixão em comum pelos Beatles e aqueles conjuntos todos da época, Gary and Pacemakers, The Monkees, Jay and The Americans, The Five Americans (do sucesso Western Union, cuja versão foi gravada por meu amigo Paulo Diniz), Renato e Seus Blue Caps, por aí.      Época de provas, esse meu amigo me convidou pra estudar na casa dele. Fui, pensando nos discos, porque ele ganhava tudo que era LP. Mas uma governanta que tomava conta da casa ficou de olhos e a gente teve de se concentrar nos estudos. Neste tempo, me apelidavam no colégio de Zé Dez, por motivos óbvios. Quando cheguei no científico, o dez virou zero, mas ai é outra história

Em Uma Tarde de Outono, Olavo Bilac

O utono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto. Outono... Rodopiando, as folhas amarelas Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto... Por que, belo navio, ao clarão das estrelas, Visitaste este mar inabitado e morto, Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas, Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto? A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos... Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol! E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste, E contemplo o lugar por onde te sumiste, Banhado no clarão nascente do arrebol. .. Olavo Bilac, in "Poesias" Imagem: www.calendariobr.com.br

Formas do Nu, João Cabral de Melo Neto

1.Aranha passa a vida tecendo cortinados com o fio que fia de seu cuspe privado Jamais para velar-se: e por isso são ralos. Para enredar os outros é que usa os enredados. Ela sabe evitar que a enrede seu trabalho, mesmo se dela mesma, o trama, autobiográfico. E em muito menos tempo que tomou em tramá-lo o véu que não a velou aí deixa abandonado. 2. Somente na metade é o aruá couraçado. Na metade cimento, na laje do telhado. Porque apesar do teto que o veste pelo alto, o aruá existe nu nu de pele esfolado. Sua casa tem teto mas não tem assoalho: cai descalça no mangue, chão também escoriado. E o morador da casa se mistura por baixo com a lama já mucosa: bicho e chão penetrados. 3.Que animais prezam o nu quanto o burro e o cavalo (que aliás em Pernambuco jamais andam calçados) A sela e a cangalha deixam-nos sufocados como se respirassem também pelos costados. É vê-los se espojar na escova má do pasto quando lhes tiram o arreio e os

Um Dos Melhores do Enem

Em 2014 havia 6,2 milhões de estudantes fazendo ENEM. O Tema  da redação foi : Publicidade Infantil Em Questão do Brasil.     A penas 250 alunos conseguiram nota máxima e Antônio Ivan Araujo, do Ceará, foi um deles com o texto: " A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças. No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos. Nesse contexto, o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças, pois, do contrário, elas podem ser prejudicadas em sua formação, com prejuízos físicos, psicológicos e emocionais. Em primeiro lugar, nota-se que as propagandas voltadas ao público mais jovem podem influir nos hábitos alimentares, podendo alterar, consequentemente, o desenvolvimento físico e a saúde das crianças. Os brindes que acompanham as refeições infantis of

A Volta do Marido Pródigo, Guimarães Rosa

     Lalino Salathiel é um mulato esperto que nunca chega na hora para o trabalho árduo na mineração da terra. Seu Marra vigia o tempo todo os trabalhadores, mas nem ele pode com o protagonista. Este vive criando histórias e justificativas para não se matar de trabalhar. Alguns gostam muito dele, outros o desprezam. Generoso acredita que o espanhol Ramiro está cercando a esposa de Lalino.      O protagonista decide ir para a capital. Ele chega ao trabalho, pede as contas e ao regressar para casa vê o homem que tenta conquistar sua esposa, Maria Rita. Lalino tem uma ideia; inventa que deseja partir sem sua garota, mas não tem os recursos financeiros para fazer a viagem. O espanhol cede e lhe empresta um conto de réis. O protagonista embarca para a capital do Brasil. Um mês se passa e Maria Rita está arrasada. Três meses depois, ela já vivia com Ramiro. Todos acreditavam que Lalino tinha negociado a própria esposa. Mais de meio ano após esses fatos, ele já

O Homem e o Rio, Adeilzo Santos

Está seco, Não chove mais, O rio só tem o nome, O homem obstrui o rio, Faz o enterro do rio Achando que o rio está morto. Depois do enterro, seu jazigo: Casas e casebres. O homem se vangloria O rio está morto E pode com o rio. O homem riu do rio. Passam anos e mais anos O homem nem lembra quando enterrou o rio. Lá vem a chuva, Molhando a terra, Encarnou no rio, É a alma do rio. E lá vem o rio Derrubando casas e casebres Levando tudo que ficar na sua frente. O homem desesperado chora, Perdera tudo pro rio. Ledo engano, era tudo do rio. O homem desolado Não entende o rio Achando que tinha o matado. Mas o rio apenas dormia. Por fim. O rio riu do homem. Imagem: www.observatoriodoclima.eco.br

Escrevendo Sem Verbo.

D á para escrever coerentemente sem verbo?  Bem, eu nunca tentei, mas vi que dá.  Olha só o que encontrei: Pequenos textos sem o uso de verbos de um exercício proposto a alunos de duas salas de aula de 1º ano de uma escola particular.   A menina e sua cama A menina na cama preta e desarrumada, de noite e com medo da chuva. Na manhã ensolarada, a menina de novo na cama preta, agora arrumada, e com grande alegria! (Isabella Pereira, Ruth e Evelyn) O garoto O garoto de vermelho, sempre feliz com a sua bola no campo florido e verde, perto do riacho claro e fresco. A casa de seu avô ao fundo. Contente por uma natureza fértil! (Isabella Schnoor e Maisa Gomes) Parati Parati, cidade linda e encantadora. Ruas antigas e belas. Ali, a garota contente com Deus, sorriso belo e um andar rápido... Nas ruas de Parati! (Gyancarla e Aisha) Branca e preto O cachorro fedido, numa casa cheirosa, com sobrancelha peluda, feia e laranja. Suas p