Pular para o conteúdo principal

Por que Malala?

 
No Afeganistão, de onde vem a jovem ganhadora do Nobel da Paz de 2014, o nascimento de uma menina, não é digno de comemoração alguma.  Mas o pai de Malala recebeu seu nascimento, com carinho e alegria. Não houve visita à família exceto a de um parente que trouxe uma árvore genealógica iniciada com um bisvô. Só nomes masculinos, logicamente. O pai, procura seu nome, faz uma linha e no lugar correto desenha um pirulito e nele escreve MALALA.  Único nome de mulher colocado na tal árvore. Escrito por um homem. Como fez seu pai, joguemos, pois frutas secas, doces e moedas a Malala!!

O nome da jovem afegã, vem de Malalai de Maiwand a maior heroina do Afeganistão.  Malalai, inspirou o exército afegão a derrotar os britânicos na segunda guerra anglo-afegã de 1880.   Foi assim: quando Malalai tinha 16 anos, seu pai (um pastor em Maiwand) e seu noivo  aderiram à tropa que lutava pelo fim da ocupação britânica. Malalai juntou-se às outras mulhweres do lugar e foi para o campo de batalha cuidar dos feridos e levar água.  Lá, viu que os afegãos estavam perdendo e que o porta bandeira caiu, então levantou seu veu branco e avançou no campo diante da tropa.  "Jovem amor! Se você não perece na batalha de Maiwand, então, por Deus, alguém o está  poupando como sinal de vergonha". Claro que o exército britânico matou Malalai. Mas esse fato mexeu com os brios dos afegãos que viraram e impuseram severa derrota aos colonizadores.


Nota 1: Maiwand, fica a aproximadamente 600Km da capital Cabul.
Nota 2: É da tradição afegã, jogar frutas secas, doces e moedas ao berço do recém nascido homem. Meninas não tem celebração alguma.
Nota 3: O Premio Nobel da Paz de 2014 foi concedido a Malala e Kailash Satyarthi(Índia)

Fonte: Eu Sou Malala, Christina Lamb e Malala Yousafzai.
Ed. Cia das Letras, 2012.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.