Pular para o conteúdo principal

Crônica-cantada:Zeca Pagodinho

Normas da casa

Da próxima vez que quiser me visitar, avisa:
"vai lá". Mas avisa
Porque vou as normas da casa mudar
Quem não for amigo só entra de crachá
Pra moralizar, vou ter que mudar

Dessa vez foi demais, você trouxe a família
da sua vizinha
Comadre, compadre, cunhado, madrinha
Fizeram uma zorra lá no meu quintal, total
Sanfona, viola, cavaco, pandeiro
Rolou samba, forró, hip-hop, de tudo por lá

Babou! Chegaram bem na hora que eu ia almoçar
Que horror! Quando eu falei "servido",
um já estava em meu lugar
Sujou! Comeram e beberam quase tudo
Que povo mal-educado (lá foi meu frango com quiabo)
Que horror! Zoaram o dia todo, ninguém tinha disciplina
Sujou! Criança, velho e jovem se jogaram na piscina
Bastou! Quando a farra acabou já era noite
Não deu mais pra me segurar, mandei todo mundo vazar

Da próxima vez...

No dia seguinte fui fazer faxina
Caramba quase que enfartei
De tanta sujeira na minha piscina
Que a mãe de quem foi lá xinguei
Osso de galinha, pilha, dentadura, peruca, garrafa, carvão,
lotado de cerveja, maiô, camisinha, e uma cueca samba canção.
Bolinha de gude, chapinha cabelo a água tão amarelada
tava na cara que ali foi banheiro desaperto da rapaziada
Não diz que é mentira foi tudo filmado, só pra você dou perdão
Porém sua turma me deixou bolado nunca mais, nem no portão, ah não!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.