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Segunda-feira poética: Machado de Assis

       
Sem ter que ler por obrigação, acabei por descobrir os poemas de Machado de Assis e achei por bem trazê-los para cá com a mesma ortografia da época. Além da beleza dos versos dá para ver como se escrevia em 1864, quando Machado de Assis escreveu e o livro  Chrysálidas, de onde tirei esse poema.



         Musa Consolatrix


Que a mão do tempo e o hálito dos homens

Murchem a flor das illusões da vida,

        Musa consoladora,

E ao teu seio amigo e socegado

Que o poeta respira o suave somno.



       Não ha, não ha comtigo,

Nem dor aguda, nem sombrios ermos ;

Da tua voz os namorados cantos

      Enchem, povoam tudo

De intima paz, de vida e de conforto.



Ante esta voz que as dores adormece,

E muda o agudo espinho em flor cheirosa,

Que vales tu, desillusão dos homens?

     Tu que podes, ó tempo ?

A alma triste do poeta sobrenada

     Á enchente das angustias,

E, affrontando o rugido da tormenta,

Passa cantando, alcyone divina.


     Musa consoladora,

Quando da minha fronte de mancebo

A ultima illusão cair, bem como

     Folha amarella e secca

Que ao chão atira a viração do outono,

    Ah ! no teu seio amigo

Acolhe-me, — e haverá minha alma afílicta,

Em vez de algumas illusões que teve,

A paz, o ultimo bem, ultimo e puro!


(Fonte: www.brasiliana.usp.br)

Comentários

  1. ser romântico é o que havia de mais brega. mas eu adoro. principalmente porque me sinto dentro do Rio de Janeiro daquela época, nas crônicas ou mesmo romances, dele.

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