Pular para o conteúdo principal

Sim. Eu vejo novela - Regina Porto



Imagem do Google
      Não são todas, não é sempre,  mas assisto sim.  
      Enquanto aguardo  saber se   meu  ato resulta em um (novela) ou dois (novela da Globo) crimes, falo um pouco de Lado a Lado.
     É  bom ver que,  mesmo seguindo alguns clichês, a novela distanciou-se do negro/branco idealizado das novelas anteriores com a mesma temática.
    Os autores foram realistas dando inveja desmedida, oportunismo, falsidade e irresponsabilidade  a Berenice e seu companheiro Caniço. Personagens  muitíssimo bem interpretados por Sheron Menezzes( linda!) e Marcello Melo Jr.   O casal negro citado  é tão ruinzinho quanto  o que mora  no palacete, tem mais poder e é interpretado por Patrícia Pilar (a baronesa) e Wemer  Schünemann (o senador).  
      O sofrimento do Sr.Afonso (Milton Gonçalves), dividido entre o amor e admiração pela filha e  o medo de enfrentar as críticas e gracinhas lançadas sobre Isabel (Camila Pitanga)  por causa de sua profissão de dançarina, tão natural, tão humano   fez o pai rejeitar a filha. 
     Sofrimento e rejeição independem de cor: o negro Afonso e a branca baronesa, de formas diferentes, fizeram o mesmo. Ele se reconciliou com a Isabel, mas espanta-se vendo uma branca trabalhando numa casa de negros. A baronesa, não mudou de ideia com relação à filha, rejeitada porque se divorciando envergonha a família,  mas afeiçoou-se ao neto que é negro.
     No Morro da Providência há pobreza,  mentira, roubo, falsidade, negros ruins. Há também D.Jurema e Isidoro  ( negra e branco) poços de bondade e honradez.
    Na cidade,  há riqueza e, igualmente, mentira,roubo, falsidade, brancos ruins. Há  Edgar e Celinha, brancos ( não há negros morando fora do morro) dignos.    
      Ser mau caráter  é branco e é negro, é inerente a humano, enfim.   
    Também é geral, e não estou aqui discutindo certo e errado, o preconceito contra a mulher muito bem colocado na personagem vivida por Marjorie Estiano,  posta pra fora do emprego tão logo seus patrões (brancos e religiosos) descobriam seu criminoso estado civil de divorciada.  
     A negra, Isabel (linda), depois de enriquecer irou brancos e negros e em ambos os lados houve exceção.  O negro Zé Maria (Lázaro Ramos, impagável)  depois de atos de heroísmo, atrai ira de negros e brancos.   
     De mim, os autores recebem os parabéns por  deixarem os sentimentos bons e maus recaírem sobre as pessoas e não sobre a cor delas e nem por isso insinuarem ou defenderem que  o passado brasileiro contra os negros não existiu.  
   E nós sabemos que o racismo continua, como também o preconceito contra as mulheres. 
    Gostei de ver as páginas da Revolta da Chibata e da Vacina (esta eu não conhecia) trazidas ao público de TV;  agradou também  o figurino muito bem cuidado, com aplauso especial aos de  Laura, D.Margarida, Isabel e da baronesa;    Por fim, quero falar que na terça de carnaval, vi a personagem Laura dizer o livro que está lendo: A Intrusa, de Júlia Lopes de Almeida.   Por causa da novela, entendi que a autora é do séc. XIX, mas confesso minha total ignorância sobre ela.   
     Já que tinha ido ao Google procurar o nome dos atores para por entre parênteses, procurei também sobre a autora do livro e me impressionei  com o que li: “ embora no seu tempo de moça não fosse de bom-tom nem do agrado dos pais, uma mulher dedicar-se à literatura.   A gente fala disso noutra ocasião. Se alguém tem o livro A Intrusa ou algum outro de Júlia Lopes de Almeida, peço emprestado prometendo devolução. 
     Hoje não tenho aula. Vai dar pra ver a novela.  Será que é de bom tom ver novela na Globo?? 

Lado a Lado: de Claúdia Lage e João Ximenes exibida pela TV Globo no horário das 19h. 
A Intrusa, Júlia Lopes de Almeida ed. Pedra Azul 2016.

Comentários

  1. Eu não assisto novela e nem gosto de TV. Mas não tenho mente fechada... a novela em questão, me deu vontade, sim. Pelo contexto, figurino e ideologia etc... Já li alguma coisa nas redes sociais, em jornais, revistas e já ouvi maravilhas de quem acompanha também. Ademais, minha mãe que é noveleira de plantão, gosta e recomenda. Vou pegar o bonde andando, mas fiquei curiosa! Um capítulo que seja...
    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Regina, uma delícia ler suas considerações sobre a novela,bem como sobre o fato de acompanhar uma novela o que não vejo,absolutamente, como crime.Depende muita da novela e essa citada tem um contexto histórico bem interessante. Pena que não acompanhei!
    E quanto ao livro, também desconhecia e posso imaginar o que era a audácia de ser escritora naquela época !
    Parabéns pelo texto, gostoso de ler.
    Marilda

    ResponderExcluir
  3. Olá Marilda,
    Naquela época as mulheres precisavam esconder-se por tras de um nome masculino pra expor ideias. Hoje ter ideias ainda é meio assustador...
    Obrigada por suas palavras. beijo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.