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Aniversariantes de Janeiro: Euclides da Cunha

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Eu Quero


Eu quero à doce luz dos vespertinos pálidos

Lançar-me, apaixonado, entre as sombras das matas

_ Berços feitos de flor e de carvalhos cálidos

Onde a Poesia dorme, aos cantos das cascatas...


Eu quero aí viver _ o meu viver funéreo,

Eu quero aí chorar _ os tristes prantos meus...

E envolto o coração nas sombras do mistério,

Sentir minh'alma erguer-se entre a floresta de Deus!


Eu quero, da ingazeira erguida aos galhos úmidos,

Ouvir os cantos virgens da agreste patativa...

Da natureza eu quero, nos grandes seios túmidos,

Beber a Calma, o Bem, a Crença _ ardente a altiva.


Eu quero, eu quero ouvir o esbravejar das águas

Das asp'ras cachoeiras que irrompem do sertão...

E a minh'alma, cansada ao peso atroz das mágoas,

Silente adormecer no colo da so'idão...



Euclides da Cunha, 1883

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