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Mostrando postagens de dezembro, 2010

Feliz você no novo ano!!

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente. ( A blogueira só volta no  dia 4/01/2011.) 

Breve nas livrarias: Estórias Mínimas

Estórias mínimas José Rezende Júnior Ed.Letras. Aguardem o lançamento do  livro. Para quem ainda não conhece José Rezende: o autor escreve contos com no máximo 140 caracteres. Sensuais, irônicos, eróticos,bem humorados mas sempre curtíssimos como Vício Maldito, postado abaixo:   VÍCIO MALDITO! O marido, que não fumava, saiu no meio da noite pra comprar cigarro. Voltou dez anos depois, com câncer nos dois pulmões . Capa e micro estória enviadas para mim pelo autor que também autorizou a postagem.

O Motorista do 8-100,Rubem Braga

    Tem o Correio da Manhã um repórter que faz, todo domingo, uma página inteira de tristezas. Vive montado em um velho carro, a que chama de "Gerico"; a palavra, hoje, parece que se escreve com "J"; de qualquer jeito (que sempre achei mais jeitoso quando se escrevia com "g") é um carro paciente e rústico, duro e invencível como um velho jumento. E tinha de sê-lo; pois sua missão é ir ver ruas esburacadas e outras misérias assim.     Pois esse colega foi convidado, outro dia, a ver uma coisa bela. Que estivesse pela manhã bem cedo junto ao edifício Brasília (o último da Avenida Rio Branco, perto do Obelisco) para assistir à coleta de lixo. Foi. Viu chegar o caminhão 8-100 da Limpeza Urbana, e saltarem os ajudantes, que se puseram a carregar e despejar as latas de lixo. Enquanto isso, que fazia o motorista? O mesmo de toda manhã. Pegava um espanador e um pedaço de flanela, e fazia o seu carro ficar rebrilhando de limpeza. Esse motorista é "um sen

Li, gostei e recomendo: Interioranos

Ano terminando decidi ler apenas os 8 livros que solicitei ao  grupo que formamos há 3 dezembros consecutivos. Leves e de poucas páginas terminaria todos eles antes de terminado janeiro. Acontece que recentemente Clávio Valença lançou um livro de contos lá no Museu do Estado - Recife. Por que eu leria Interioranos se já estou à espera de vários?  Porque conheço o autor. E lá fui eu. Exímio contador e criador de histórias, com ou sem H, Clávio Valença criou personagens formidáveis. Desses que podem morar no bairro ao lado ou na casa da frente em qualquer cidade do interior, em  qualquer dos Rio Grande, do Norte ao  do Sul.   Interioranos traz  13 contos bem humorados, ponteados de ternura e ironia sutil. Leitura rápida e muito divertida. O livro segura o leitor desde as primeiras páginas além do que é muito bem  acabado. Bonito mesmo.  Interioranos-Clávio Valença Ed.Comunigraf,2010  Interioranos - Clávio Valença R$30,00 Onde comprar: Livraria da Jaqueira R.Ante

Andei Léguas de Sombra, Fernando Pessoa

Andei léguas de sombra Dentro em meu pensamento. Floresceu às avessas Meu ócio com sem-nexo, E apagaram-se as lâmpadas Na alcova cambaleante. Tudo prestes se volve Um deserto macio Visto pelo meu tato Dos veludos da alcova, Não pela minha vista. Há um oásis no Incerto E, como uma suspeita De luz por não-há-frinchas, Passa uma caravana. Esquece-me de súbito Como é o espaço, e o tempo Em vez de horizontal É vertical. A alcova Desce não se por onde Até não me encontrar. Ascende um leve fumo Das minhas sensações. Deixo de me incluir Dentro de mim. Não há Cá-dentro nem lá-fora. E o deserto está agora Virado para baixo. A noção de mover-me Esqueceu-se do meu nome. Na alma meu corpo pesa-me. Sinto-me um reposteiro Pendurado na sala Onde jaz alguém morto. Qualquer coisa caiu E tiniu no infinito.

Feliz natal a todos vocês.

Pavarotti Domingo Carreras - Happy Christmas/War Is Over John Lennon

Natal Chique- Vitorino Nemésio

Natal Chique    Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na muita pressa e pouco amor. Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal. Valeu-me um príncipe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado… Só esse pobre me pareceu Cristo. ______________________________________________ Vitorino Nemésio : Açores 1901 - Lisboa 1978 Algumas obras do autor: Poesia: O Verbo e a Morte Canto de Véspera Sapateia Açoriana, Andamento Holandês e Outros Poemas Romance: Paço de Milhafre Varanda de Pilatos Mau Tempo no Canal Esse poema foi uma sugestão do colega blogueiro Leonardo B, a quem agradeço com um  beijo.

Horóscopo poético: Capricórnio 22 de dezembro a 21 de janeiro

Capricórnio - Vinicius de Moraes A capricorniana é capricornial Como a cabra de João Cabral. Eu amo a mulher de capricórnio Por que ela nunca lhe põe os próprios. A caprina é tão ciumenta Que até o ciúmes ela inventa. Mulher fiel está aí: é cabra Só que com muito abracadabra. Suas flores: a papoula e o cânhamo De onde vem o ópio e a maconha Ela é uma curtição medonha Por isso nos capricorniamos

Noite Feliz, Marcos Rodrigues

   O desembargador Gabriel Ferreira de Araújo, aos domingos, recebia todos os filhos, netos e agregados para almoçar. Mesmo viúvo, mantinha o costume. Gostava da reunião, mas não participava muito da conversa. Era muito rápida, não entendia tudo. Preferia acompanhar à distância. Foi assim também  naquele domingo.     Estavam todos preocupados com o Natal, percebia. Mais por sua viuvez recente. Ninguém sabia direito como ia ser. Nem os filhos, nem os agregados. Ninguém falava nada, mas havia algo no ar.     De repente o tema veio à mesa, trazido pela mais velha. Cuidadosa, tocou no assunto como se nada houvesse. Ceia mais cedo ou ceia mais tarde? Assim tão cedo? E os agregados? E as famílias dos agregados? E os namorados? Quem traz o quê? Naquela conversa toda havia apenas a certeza da presença da Almerinda, que continuava cuidando da casa e, sobretudo, dele mesmo. Excelente pessoa, a Almerinda.     Ele ouviu tudo com muita calma e pensou em suas vontades. Matutou, ponderou e d

Recordo Ainda,Mário Quintana

Recordo ainda... e nada mais me importa... Aqueles dias de uma luz tão mansa Que me deixavam, sempre, de lembrança, Algum brinquedo novo à minha porta... Mas veio um vento de Desesperança Soprando cinzas pela noite morta! E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança... Estrada afora após segui... Mas, aí, Embora idade e senso eu aparente Não vos iludais o velho que aqui vai: Eu quero os meus brinquedos novamente! Sou um pobre menino... acreditai!... Que envelheceu, um dia, de repente!...

Pernambuco Em Campanha Contra o Bullying

Cartilha distribuida nas escolas públicas do Estado Pernambuco A peleja da covardia com a senhora educação I Esse cordel tão modesto Mas feito com consciência Pretende sintetizar Com clareza e eficiência O significado de bullying Como assédio ou violência II O bullying pode ocorrer No ambiente de emprego No parque ou no futebol Causando desassossego Espalhando a discórdia A violência e o medo III Tem também o cyberbullying Que ocorre no Orkut Nos sites da internet No twitter ou facebook Qualquer um pode ser vítima Seja pobre, rico ou Cult IV Até mesmo na escola Lugar de cidadania Do respeito às diferenças Palco da democracia Há o bullying escolar Uma tremenda covardia V Isso mesmo meu amigo Se atualize sem demora Preste muita atenção Ao que vou dizer agora O Bullying também ocorre No chão das nossas escolas! VI E é sobre esse último caso Que agora vou falar A terrível violência Que vive a nos r

Meu Presente de Natal Chegou Adiantado,Ignácio de Loyola Brandão

Fiquei encantada com essa história e trouxe para dividir com vocês.       Meu presente de Natal chegou adiantado. Semana passada o e-mail de uma senhora de 78 anos entrou em meu computador. No mesmo instante, 40 anos se evaporaram e me vi na redação da revista Claudia, então na Marginal, Freguesia do Ó. Anos 70. Uma tarde, Thomaz Souto Correa, diretor, passou pela minha mesa: "Estamos recebendo um número enorme de cartas com leitoras enviando contos. Precisamos responder. Fique com essa incumbência. Responda todas!" Havia essa preocupação, a interação com as leitoras. Não havia e-mails, fax, computadores, era máquina de escrever, papel timbrado, selo, cola, correio. Não achei uma tarefa desagradável, sou curioso, lia besteiras aterrorizantes, mas lia coisas razoáveis, curiosas, boas.      Via a imaginação das leitoras desfilando pela minha mesa, sonhos, fantasias, queixas, projetos. Um dia, apanhei um conto bom, apenas mal estruturado. A mulher do interior (qual

Estante virtual, convoca...

30 melhores livros infantis de 2010

Os melhores livros infantis ( 2 a 7 anos) de 2010 escolhidos pela Revista Crescer. Girafas Não Sabem Dançar - De: Giles Andrade,Ilustração:Guy Parker-Rees Ed.Cia das Letrinhas  - Idade:a partir de 2 anos Geraldo é uma girafa muito desengonçada. Se tenta correr, troca as pernas e se estatela no chão. Mas coragem é o que não lhe falta. Tanto que resolveu ir ao baile anual da selva. Na festa, os bichos dançam todo tipo de música - rock, tango e até chachachá. E todo mundo na África está cansado de saber que girafas não sabem dançar. Todo mundo, inclusive o Geraldo. Pois não é que, mesmo assim, ele respirou fundo e, aos tropeções, dirigiu-se para a pista de dança? Com dobraduras e figuras que se movimentam por puxadores, este livro vai contar o que aconteceu com o Gê naquela noite. E o leitor vai ver como o grilo cricrilou um conselho precioso para nosso amigo - graças a ele, Geraldo foi capaz de uma proeza que deixou a selva inteira de boca aberta.  Da Pequena Toupeira Que

Como estimular a leitura infantil

Acabo de ver na Revista Crescer , algumas dicas para estimular a leitura das crianças. Coloquei algumas aqui, justamente as que me lembro de ter feito.  Tem tudo para funcionar. Para meus filhos, hoje adultos, funcionou muito bem. Agora, sem querer desanimar ninguém: se não for sincero, se pai e mãe não gostam de ler, vamos ser realistas, a probabilidade dos filhos gostarem cai muito. Não é impossível, mas dificulta. Vamos às dicas: *Não importa onde você guarde os livros: quarto, sala, banheiro, escritório... o importante é que fiquem em prateleira baixa, acessível à criança. *Mentenha os livros limpos e organizados da forma mais simples para você e principalmente para as crianças. Pode ser por ttema, ordem alfabética, cor da capa... *Ensine seu filho a cuidar dos livros, mas não exagere. O livro tem de ter aparência de que foi lido e relido. Livro intacto é livro não lido. *Hora de leitura é hora de afeto. Você pára tudo e lê para a criança e ela entende o recado. Ao pe

As Pulseiras,Humberto de Campos

     Graciosamente morena, com uns grandes olhos negros, cabelo ondeado, corpo flexível, e um andar de cobra no descampado, mme. Batista Belo era, sem contestação admissível, uma das figuras mais acentuadamente chics da cidade. Os seus vestidos não eram ricos, nem eram caros os seus chapéus; era, porém, tão definido o cunho da sua elegância, que, nas, festas, nos teatros, nos passeios, era ela quem se revelava a rainha, a dominadora, a vitoriosa, no meio de outras mais opulentamente trajadas.     Conhecedor da pérola que possuía, o marido vigiava-a de perto, cumulando-a de mimos, — de colares, de brincos, e, principalmente, de pulseiras, de que ela possuía, já, a mais soberba variedade. Eram pulseiras de platina, com brilhantes; de ouro, com safiras; de prata, com pérolas foscas; e eram, sobretudo, de metal mais ou menos liso, em número de vinte ou trinta, que tilintavam ao menor movimento, dando à linda senhora, quando ela passava na Avenida, um galhardo aspecto de burra-madrinha

Natal,Cecília Meireles

    Como estamos mudados! Em meio século, perdemos aquela ingenuidade dos votos dirigidos de janela a janela: "Boas Festas!", "Feliz Ano Novo!"; das ceias tradicionais, talvez copiosas, porém modestas; das lembrancinhas oferecidas às crianças como um dom misterioso do céu; dos vestidos novos para os ofícios das igrejas e as visitas aos presépios; alegria das músicas e cânticos, deslumbramento dos olhos diante de uma Belém infantil, com patinhos nos lagos e lavadeiras nos rios... Ah! como éramos sensíveis, imaginativos! Como estávamos prontos a completar, com a nossa memória dos episódios evangélicos, a paisagem arbitrariamente inventada! Como achávamos naturais todas as coisas desencontradas naquele mundo fictício! Talvez prevíssemos que o nosso não o era menos, e igualmente e misteriosamente desencontradas as coisas que nele iríamos presenciar!      Esperávamos por esses últimos dias do ano combinando sonhos de novas alegrias alimentadas pelas lembranças

À Sua Mulher Antes de Casar,Gregório de Matos

Discreta, e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Enquanto com gentil descortesia O ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança voadora, Quando vem passear-te pela fria: Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda a flor sua pisada. Oh, não aguardes, que a madura idade Te converta em flor, essa beleza Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada. ________________________________________________________________________________ Gregório de Matos Guerra , nascido em Salvador em 1636, oficialmente era português uma vez que o Brasil só viria e tornar-se independente no século XIX. É considerado o maior poeta barroco em língua portuguesa. Sua obra traz poemas sacros, humorísticos e satíricos. O apelido de Boca do Inferno, deve-se a suas constantes críticas à igreja católica. Gregório de Matos faleceu no Re