Pular para o conteúdo principal

A Caixa Preta - agradável surpresa.


Ontem à noite tive a agradável surpresa de conhecer o israelense Amós Oz: terminei de ler A Caixa Preta. O título refere-se ao lugar onde se encontra toda a história de um acidente, no caso do livro, um casamento.
Começando pelo envio da primeira carta de Ilana a Alex sete anos após seu divórcio, de forma pouco comum porém, muito hábil Amós Oz conta a história do casal. Toda a narrativa é feita através de cartas entre os personagens citados, o filho problemático e adolescente nascido desse casamento, a irmã de Ilana, o administrador e advogado de Alex, o segundo marido e outros personagens menores.

A correspondência entre os personagens principais, mostra a gama de circunstâncias que fizeram a vida infernal e insegura de Ilana, a confusa mente de seu filho Boaz, a mediocridade e fanatismo de seu segundo marido Michel e o afastamento do primeiro, Alex. Momentos de pragmatismo do adolescente pedindo para a mãe carregada de culpa, ocupar-se em algo como cuidar de horta; dirigindo-se ao padrasto criticando sua mania de querer dirigir a vida dos outros pela ótica do fanatismo religioso e, por fim, a relação, pontuada de ternura, desse adolescente com a irmã me deixaram definitivamente surpresa com A Caixa Preta. Recomendo o livro. E, aos integrantes da comunidade LivroErrante, posso emprestar.

Amós Oz - livros editados no Brasil:
Conhecer Uma Mulher - Cia das Letras - 1992
Fima - Cia das Letras - 1996
Não Diga Noite - Cia das Letras -1997
Pantera do Porão - Cia das Letras - 1999
O Mesmo Mar - Cia das Letras - 2001
Meu Michel - Cia das Letras - 2002
A Caixa Preta - Cia das Letras - 2003
Contra O Fanatismo - Ediouro - 2004
Sunri - Ática - 2005
De Amor e Trevas - Cia das Letras - 2005
E A História Começa - Cia das Letras - 2007
O Monte do mau Conselho - Cia das Letras - 2011 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.